domingo, 16 de janeiro de 2011

We Can Do It

Por que depois de todas as duras conquistas das mulheres nos últimos tempos muitas de nós ainda sonhamos com uma vida de dona-de-casa-pequena-burguesa-com-cinco-filhos-e-uma-casa-de-cerca-branca? Essa é a pergunta que vêm rondando minha cabeça nos últimos tempo, desde que comecei a ler A mística feminina, de Betty Friedan.

O livro nos fala justamente dessa questão, a criação de uma mística em torno do que é ser mulher baseada na figura da dona de casa jovem e que vive em função dos filhos e do marido,aliás que só existe em função desses dois elementos pois não tem nem vida e nem idéias próprias. E pasmem o livro e da década de 60, ou seja, nesta época os grandes movimentos de emancipação da mulher, desde as sufragistas até a segunda onda do feminismo, inaugurada por Simone de Beauvoir (minha guru), já havia conhecido o seu apogeu e dado o seu legado para as mulheres de então.

O que Friedan expõe nos leva a pensar porque as mulheres, ao invés de progredirem, no sentido de ter uma vida livre das amarras a ela impostas pelas sociedades patriarcais, que até hoje mantêm as suas algemas sobre o mundo, regridem a ponto de achar que qualquer coisa ligada à carreira, ao desenvolvimento intelectual apenas serve para lhes tornar masculinizadas e distantes de seu “papel feminino”. E isso hoje é tão comum quanto foi na época da autora, o que é triste de se ver.

Hoje muitas mulheres ainda continuam se casando muito cedo com homens ricos, pois assim não precisarão trabalhar e ficarão apenas responsáveis por cuidar da sua beleza.

As mulheres ainda desistem de uma possível carreira brilhante porque simplesmente isso iria atrapalhar no quesito maternidade,que é sua função. Evitam saber ou falar demais, principalmente “assunto de homens”, porque isso assusta os dito cujos, afinal não é necessário saber mais que uma receita de bolo. E assim elas tentam se apegar firmemente nessa crença de que é no lar que reside sua felicidade, porque afinal é muito mais fácil casar, se esconder nas sombras de um homem do que viver sua própria vida. Existir por meio de outro torna a dor da existência mais facilmente suportável.

Levar essa vida fútil é o que há de melhor para fugir de si mesma.

E cada vez mais nos perdemos nesse jogo em que quem ganha é somente o sexo masculino que tem em casa uma amante, uma lavadeira, uma passadeira, uma cuidadora de crianças, em tempo integral, que perde toda a sua existência e vitalidade na função a ela destinada pelos homens que controlam a sociedade. Enquanto ele, dono de si e livre se regozija tendo o mundo todo a seus pés, o mundo todo por conhecer e dominar.

Enquanto isso mais e mais mulheres são vitimas de abusos sexuais, de violência física e psicológica. E quando decidem por ter uma carreira, quando tentam conquistar seu espaço no mundo do trabalho, são massacradas por baixos salários e grandes preconceitos, somente porque não têm um pinto entre as pernas.

Por isso fico triste,com raiva, revoltada, quando percebo em muitas meninas que seu único objetivo na vida e ficar linda para que venha um príncipe encantado, rico, para levá-la para casa, para te dar um castelo. E assim ela poderá ter seus sonhos com a mobília do momento, com a mais moderna geladeira. Assim ela perde a sua essência e se torna um robô executando tarefas ditadas pelo statos quo. E isso tudo por medo de enfrentar o mundo.

Mas quando mulheres corajosas conseguem ascender a um lugar de destaque, vem logo as piadinhas clássicas de que, ou ela é lésbica ou provavelmente é uma depressiva, estranha que nunca conseguiu arrumar um namorado na vida, ou deu para alguém para chegar onde chegou.

Ah essa mentalidade patriarcal doente. Nunca conseguem ver que o mundo existe também sem a intervenção de um homem.

Sei que é difícil viver em um mundo feito para homens, como diria a música do MC5, mas eu espero que todas as mulheres descubram em si mesmas essa força avassaladora que nos faz ser quem somos, que nos fez enfrentar todas as limitações sociais e físicas que nos impuseram ao longo do anos, e que não somos nem pior nem melhor que ninguém,somos diferentes, apenas. E é muito melhor ser reconhecida pela sua própria personalidade do que por um sobrenome que nem ao menos é seu.

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